Nada ao Acaso

2005-09-21

O QUE OS OUTROS VÃO PENSAR?

É admirável o esforço que os meios de comunicação fazem para consciencializar a sociedade sobre a importância de proteger as crianças.
Mas, para ser franca, quando eu era pequena não tinha medo nenhum do papão ou da bruxa malvada.
Quem me aterrorizava era outro tipo de monstro.
Eles atacavam em bando.
Chamavam-se OS OUTROS.
Nada podia ser pior que OS OUTROS
As crianças acordavam de manhã a pensar neles.
Quer dizer, as crianças não: as mamãs.
Era com OS OUTROS que elas nos ameaçavam caso não nos portássemos bem.
Se não estudássemos, OS OUTROS nos chamariam de burros.
Se não fôssemos amigos da turma toda, OS OUTROS nos apelidariam de bicho-do-mato.
Se não emprestássemos os nossos brinquedos, OS OUTROS nunca mais brincariam connosco.
E o pior é que as mães não mantinham a lógica do seu pensamento.
'Mas mãe, toda a gente dorme na casa dos amigos??'
Eu lá quero saber DOS OUTROS?
Só tu me interessas !?
Era de pirar a cabeça de qualquer um.
Não víamos a hora de crescer para nos vermos livres daquela perseguição.
Veio a adolescência, e que desespero: descobrimos que OS OUTROS estavam mais fortes do que nunca, ávidos por liquidar a nossa reputação.
'Vais á festa com estas calças todas rasgadas?
O que OS OUTROS vão dizer??'
'Filha minha não viaja sozinha com o namorado, não vou deixar que seja comentário
na boca DOS OUTROS', dizia a mãe de minha namorada.
Não tinha escapatória: aos poucos fomos descobrindo que OS OUTROS habitavam o planeta inteiro, estavam de olho em todas as nossas acções, prontos para criticar as nossas atitudes e estragar a nossa felicidade.
Mas ninguém em sã consciência pode se considerar totalmente indiferente a eles.
OS OUTROS ainda dizem horrores de nós.
Ainda têm o poder de nos etiquetar, de nos estigmatizar.
Nós bem que tentamos não levá-los a sério, mas sempre que bate uma vontade de entregar os pontos ou de chorar no meio de uma discussão, pensamos:
Não vou dar este gostinho para OS OUTROS...
Está para existir monstro mais horrível do que aquele que poda a nossa liberdade.

Obs.:
Não dê muita bola para o que OS OUTROS pensam. Isso não fará de si uma pessoa melhor.
Mas escute atento o que o EU dentro de você sussurra a cada acção ou pensamento.
Isso pode fazer toda diferença.

Além disso, OS OUTROS não pagam nossas contas !

Martha Medeiros


 
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