Nada ao Acaso

2004-12-16

Dor ...

Não consigo guardá-las … perdem-se quentes … escorrem pela face …
A dor … essa insuportável … um nó na garganta que teima não me descansar … percorrem-me pela memória os cheiros e os sentires de meses de vivência …
O calor de um afago e o toque suave pelo o meu corpo … quase me arrepia a alma … de pensar que não voltarei a senti-lo … recordá-lo-ei para sempre …
As gargalhadas, os disparates, as noitadas, os passeios de bicicleta … a confusão na cozinha a antever mais uma refeição … a agitação de mãos e pés pela casa … para ficar como nós gostamos … assim arrumadinha … até mesmo a conversa …que é como as cerejas … e que se desenhava em qualquer local … a cumplicidade que foi crescendo … que foi florescendo … estávamos em sintonia …
Veio a discussão, a incompreensão, os maus entendidos, enfim o disparate de não ouvir, e o de não deixar falar … a desconfiança infundada … a incompreensão do mau estar … a doença que transformou tudo isto … o não conseguir adaptar a esta nova condição … anteviam um fim da história bonita … tão súbito quanto o seu início …
Não quero que seja assim … mas que posso fazer … não me aguentaria se obrigasse … ou tentasse que sentisse pena …
Quero acreditar que foi só ali à esquina comprar o jornal … e que mais minuto menos minuto … entrará pela aquela porta … e num abraço tudo se resolverá …
Escrito em 27 de Setembro de 2004 ....


 
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