Fehér e Cadaval
A morte não é sempre assim mas quando aparece nestas condições comove toda a gente. Inesperada, contundente, fria e avassaladora, é mais dolorosa quando acaba com a vida de um jogador de futebol ou de duas crianças.
Aconteceu no domingo, num estádio de futebol à vista de milhares de pessoas, e no sábado, numa casa particular em Adão Lobo, no Cadaval. A primeira foi chocante porque aconteceu em directo, as segundas foram tristes e rapidamente esquecidas porque não aconteceram ao vivo.
A trágica morte de Fehér alimentou os noticiários de segunda-feira e certamente que ainda será a notícia do dia na terça-feira. A perda da vida de duas crianças de três e 12 anos por causa de um intoxicação de gases proveniente de um acto de negligência – instalação de um esquentador na casa de banho – foi notícia no sábado e domingo e pouco mais. Percebe-se a prioridade dos media: o caso Fehér é raro e envolve um jogador de futebol do clube mais popular de Portugal. Mas o caso do Cadaval é a imagem de um País distante da modernidade, onde ainda se morre por puro descuido.
A partir dessa prioridade definida pelos media foi preciso alimentar horas e horas de directos, comentários, declarações e voltar a passar, abundantemente, as imagens da tragédia. Recordaram-se outros casos, quer em Portugal, quer no estrangeiro. Foi a lógica do excesso que definiu que Portugal inteiro tinha que chorar por Fehér.
No Cadaval, só existiram os familiares dos dois irmãos para chorar por eles. É a lógica do excesso que eleva agora Fehér à categoria de estrela do futebol português, um estatuto que não tinha atingido em vida. Entrará directamente para a galeria dos heróis e ficará para sempre com um lugar de destaque na história do Benfica, equiparável a outros mitos do futebol encarnado. Os irmãos do Cadaval nunca chegarão a heróis e, provavelmente, a sua morte nem sequer servirá de exemplo para acabar com a situação que lhes levou a vida.
Hermínio Santos
in Diário Digital http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=41&id_news=114377
Aconteceu no domingo, num estádio de futebol à vista de milhares de pessoas, e no sábado, numa casa particular em Adão Lobo, no Cadaval. A primeira foi chocante porque aconteceu em directo, as segundas foram tristes e rapidamente esquecidas porque não aconteceram ao vivo.
A trágica morte de Fehér alimentou os noticiários de segunda-feira e certamente que ainda será a notícia do dia na terça-feira. A perda da vida de duas crianças de três e 12 anos por causa de um intoxicação de gases proveniente de um acto de negligência – instalação de um esquentador na casa de banho – foi notícia no sábado e domingo e pouco mais. Percebe-se a prioridade dos media: o caso Fehér é raro e envolve um jogador de futebol do clube mais popular de Portugal. Mas o caso do Cadaval é a imagem de um País distante da modernidade, onde ainda se morre por puro descuido.
A partir dessa prioridade definida pelos media foi preciso alimentar horas e horas de directos, comentários, declarações e voltar a passar, abundantemente, as imagens da tragédia. Recordaram-se outros casos, quer em Portugal, quer no estrangeiro. Foi a lógica do excesso que definiu que Portugal inteiro tinha que chorar por Fehér.
No Cadaval, só existiram os familiares dos dois irmãos para chorar por eles. É a lógica do excesso que eleva agora Fehér à categoria de estrela do futebol português, um estatuto que não tinha atingido em vida. Entrará directamente para a galeria dos heróis e ficará para sempre com um lugar de destaque na história do Benfica, equiparável a outros mitos do futebol encarnado. Os irmãos do Cadaval nunca chegarão a heróis e, provavelmente, a sua morte nem sequer servirá de exemplo para acabar com a situação que lhes levou a vida.
Hermínio Santos
in Diário Digital http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=41&id_news=114377
